Não seria exagerado dizer que, no transporte rodoviário, qualquer detalhe importa. Quando o assunto é transporte de cargas, por exemplo, as características e particularidades da mercadoria é que devem nortear o planejamento, definindo as diretrizes do escoamento.

Com carga seca, por exemplo, uma série de cuidados precisam ser tomados de forma a garantir a eficiência do serviço.

É importante que o gestor logístico esteja preparado para atender às exigências — legais e operacionais — de cada tipo de produto. Seja para obedecer à legislação vigente, seja para maximizar os resultados do negócio, é válido conhecer em detalhes cada parte da demanda.

Neste post, você entenderá um pouco mais sobre as especificidades deste tipo de material (inclusive com exemplos) e saberá quais são os cuidados necessários no escoamento da carga seca. Além disso, receberá dicas a respeito dos veículos mais indicados para o transporte, assegurando a viabilidade do serviço.

O que é carga seca?

A carga seca diz respeito à mercadoria não perecível, passível de ser transportada independentemente das condições climáticas. No geral, poucos danos perigosos, ocasionados por fatores externos, podem ser infligidos aos produtos durante o escoamento adequado.

Ao contrário da carga viva, cujo transporte é altamente delicado, e da carga frigorífica, que trata de perecíveis e exige cuidados extras, por exemplo, a carga seca é relativamente fácil de ser levada de um ponto a outro.

Quais as leis que regulamentam o transporte de carga seca?

No Brasil, o transporte de carga seca é regulamentado por um conjunto de leis e resoluções que buscam garantir a segurança, a eficiência e a justiça nas relações entre transportadores, embarcadores e motoristas. É interessante verificar que vários órgãos estão envolvidos, como a ANTT, o CONTRAN e o Ministério do trabalho.

Veja as principais leis e normas que regem o transporte de carga seca no Brasil:

Lei nº 11.442/2007 (Lei do Transporte Rodoviário de Cargas)

Essa é a lei mais importante para o transporte de cargas por conta de terceiros e mediante remuneração. Ela define as responsabilidades do transportador, do contratante, do consignatário e do segurador.:

Lei nº 13.103/2015 (Lei do Caminhoneiro)

Essa lei, que alterou e consolidou aspectos da Lei nº 12.619/2012 (Lei do Descanso), trata dos direitos e deveres dos motoristas profissionais. Ela estabelece regras importantes sobre:

Lei nº 13.703/2018 (Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas)

Essa lei instituiu a política de pisos mínimos para o frete rodoviário, com o objetivo de promover condições adequadas de remuneração para os serviços de transporte. A ANTT é responsável por definir e divulgar a tabela com esses pisos.

Lei nº 14.599/2023 (Seguros Obrigatórios)

Essa lei tornou obrigatória a contratação de certos seguros para as empresas de transporte, oferecendo maior segurança financeira em caso de sinistros.

Resoluções da ANTT

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) é o órgão responsável por regulamentar e fiscalizar o transporte rodoviário de cargas no Brasil. Diversas resoluções da ANTT complementam as leis, tratando de aspectos específicos como: Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Carga (RNTRC), documentos fiscais eletrônicos (CT-e e MDF-e), Pagamento Eletrônico de Frete (PEF) e Vale Pedágio Obrigatório.

Norma Regulamentadora nº 11 (NR-11)

Esta norma do Ministério do Trabalho e Emprego trata da segurança nas operações de transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais. Embora não seja exclusiva do transporte de carga seca, ela estabelece diretrizes importantes para a segurança dos trabalhadores e das mercadorias.

Além dessas Leis, vale destacar a Resolução CONTRAN nº 210/2006 que destaca os limites de peso e dimensões para veículos de carga.

Quais são os tipos de carga seca?

No Brasil, onde o transporte de carga via rodovias é muito intenso — despontando, inclusive, como o maior modal de escoamento do país —, basta voltar o olhar às estradas para enxergar algum tipo de carga seca em deslocamento. As categorias mais comuns destas mercadorias são:

  • madeiras;
  • ferragens;
  • materiais de construção (exceto cimento e similares);
  • encanamentos;
  • móveis;
  • eletrodomésticos;
  • peças automotivas;
  • produtos de higiene pessoal;
  • ferramentas.

É válido lembrar, ainda, que alguns alimentos não perecíveis — tais como feijão, óleo e açúcar — também são considerados carga seca e, no transporte, não demandam cuidados especiais (refrigeração permanente, por exemplo).

Quais são os cuidados necessários ao transportar carga seca?

Muito embora a carga seca exija, em comparação aos demais tipos de mercadoria, menos cuidados relativos, é preciso estar certo de que algumas obrigações e cuidados continuam inerentes ao escoamento dos produtos secos.

De forma a garantir a segurança do transporte — da coleta à entrega — e a eficácia do serviço, mantendo a lucratividade da operação, o gestor deve se preocupar com fluxos transparentes de trabalhos. Confira algumas das melhores práticas logísticas para cargas secas!

Realize o empilhamento correto

Para cargas secas, o empilhamento é plenamente viável e facilita bastante o processo de manejo. É importante, porém, que os responsáveis logísticos realizem a manobra de forma correta, respeitando as características da carga.

Se a mercadoria for composta por madeira — considerando que se trata de um matéria-prima bruta —, por exemplo, é possível dispensar delicadeza excessiva. Caso a carga seja de eletrodomésticos, por sua vez, é necessário planejar o carregamento de acordo com o peso e a proporção do produto, evitando transtornos e prejuízos.

Proteja a carga para evitar exposição a sol ou chuva

Na grande maioria dos casos, a proteção contra sol e chuva é indispensável. Ainda que alguns itens não sofram avarias quando expostos a esses fatores climáticos, é conveniente avaliar a pertinência de cobertura extra, de modo a assegurar a integridade da mercadoria.

Para cargas mais delicadas — tais como móveis e ferramentas — a cobertura dos produtos é fundamental para que o escoamento preserve a qualidade dos itens e satisfaça todos os envolvidos na transação.

Evite sobrecarregar o veículo de transporte

O planejamento logístico afeta todo o fluxo operacional. Quando executado de forma integrada e sistemática, proporciona benefícios ao longo de toda a cadeia — da separação de itens ao transporte enxuto.

Um dos cuidados no momento de acomodar a carga no caminhão é, portanto, o cálculo do peso suportado. Ao conhecer os limites do veículo, é possível estabelecer a quantidade máxima de itens, de acordo com seus atributos.

Lembre-se de que sobrecarga é prejudicial à empresa logística, que deteriora seus veículos ao submetê-los a pesos além do recomendado. Também ao cliente para o qual a mercadoria é destinada, uma vez que há o risco de avariar os produtos escoados.

Priorize a segurança para evitar roubos e furtos

O seguro é uma ótima alternativa para atenuar contratempos e perdas com crimes de carga. Infelizmente, roubos e furtos em rodovias são bem comuns no Brasil: segundo dados da FIRJAN, o prejuízo acumulado com os delitos está estimado em R$1,5 bilhão.

Com o objetivo de antever transtornos e evitar altos custos, vale incorporar soluções de seguros. Essa preocupação dá mais tranquilidade à empresa e ao cliente, validando a qualidade do serviço de ponta a ponta.

Quais são os veículos indicados para esse tipo de transporte?

Por fim, também cabe ao gestor logístico definir quais são os veículos adequados ao transporte de seus produtos. A decisão, embora relativamente simples, precisa ser tomada com base em domínio profundo das questões logísticas — tais como destino, rota, volume da carga e características específicas das mercadorias.

Para assegurar a efetividade do serviço, vale explorar as possibilidades de automóveis e escolher o mais adequado à demanda da empresa. Algumas das opções mais recorrentes são:

  • caminhão tocoque se caracteriza por ser um veículo curto, com dois eixos e capacidade média de 8 toneladas;
  • caminhão truckque é um modelo mais longo e possui três eixos, aguentando com tranquilidade até 12 toneladas;
  • carreta (cavalo mecânico + semi reboque)cuja capacidade, em volume de carga seca, é a maior entre os veículos citados, suportando até 25 toneladas.

Quais são os tipos de carrocerias utilizadas para o transporte de carga seca?

Para transporte de cargas secas, os principais tipos de carrocerias utilizadas são:

  • Baú: carroceria fechada que protege a carga contra chuva, poeira e roubo. Ideal para eletrônicos, alimentos secos e eletrodomésticos;
  • Graneleiro (ou grade alta): as laterais com grades altas são usadas para transporte de mercadorias como grãos, sacarias e outros produtos a granel que não exigem proteção contra chuva;
  • Sider: possuí as laterais com lonas móveis, facilita o carregamento lateral podendo ser usada em centros urbanos e com cargas paletizadas;
  • Grade baixa: com boa visibilidade e fácil carregamento é ideal para blocos, tubos, sacos e materiais de construção.

Diante disso, fica evidente que o transporte de carga seca, mesmo que relativamente menos complexo, também demanda atenção e planejamento eficiente. É preciso garantir a integridade da carga e a rentabilidade do escoamento, alavancando os resultados logísticos. O conteúdo ajudou você a repensar suas operações logísticas? Ótimo! Agora aproveite para se aprofundar no assunto e saiba mais sobre a capacidade de carga em cada tipo de veículo.